O sol ainda paira no ar. As nuvens vão surgindo, brancas, leves e fofas, transmitindo a tranquilidade e a paz que luzem na pureza de Maria.
Maria é uma menina a entrar na idade escolar e que ainda não conhece outras crianças, é a única nesta aldeia chamada Pôr-do-sol.
Maria nasceu no florir da Primavera e muito cedo viu partir os seus pais à conquista de novas oportunidades, deixando a promessa de que um dia voltariam e a recompensariam desta ausência. Mas, essa promessa ainda não foi comprida e as saudades vão sendo amenizadas com uns telefonemas de Boas Festas e de um talvez nas próximas férias de Verão.
Todos os dias, de manhã bem cedo, o avô António abre o estábulo, dizendo:
- Bom dia, meninas! Vamos a mais um passeio?
- Avô, eu trato da Branquinha. – Diz Maria a correr em minha direcção para me abraçar e embrulhar de beijos – És a minha predilecta e nunca te hei-de abandonar.
Até parece que sou eu que não vejo os meus pais e que não tenho ninguém da minha idade para brincar.
Enquanto nos dirigimos ao prado, Maria acompanha-me e questiona-me de como será o mundo para lá desta aldeia. Encosta-se ao meu ouvido e segreda-me os seus receios de quando tiver que frequentar uma escola.
- Vou ter que dizer palavrões e bater noutros meninos como se vê nas notícias da televisão? – Pergunta Maria e dá um tempo até à próxima interrogação como se estivesse à espera da minha resposta. – E como é que eu vou saber mexer naquela máquina que lhe chamam Sr. Magalhães?
As dúvidas, as incertezas e as ânsias são muitas e eu não a posso ajudar, a não ser escutá-la sem contestar e passar-lhe alguma confiança com o meu olhar, onde ela parece encontrar as suas respostas.
- Maria, traz a Branquinha para junto do rebanho. Chegou a hora de regressarmos e a avó João deve ter o almoço pronto!
Apesar de todas estas inquietações, Maria é uma criança feliz, querida pelos poucos aldeões e muito amada pelos seus avós.
Os seus avós, estes sim, disfarçam a sua preocupação com palavras afáveis. A idade vai avançando e temem não conseguirem acabar de criar a sua neta.
- A nossa filha disse que vinha busca-la para junto dela e já passaram seis anos. O que vai ser da nossa menina? – Desabafa a avó João no ombro de seu marido.
A verdade é que estes avós criam a sua neta com todo o seu amor, mas sentem-se revoltados com a sua filha, não conseguem compreender como uma mãe parte e deixa os seus rebentos para trás.
- Onde será que nós falhamos? – Questionam ambos, condenando-se pelo afastamento da sua filha.
Todavia, estas desilusões não perturbam a ingenuidade de Maria, que sempre viveu no meio da simplicidade.
Fátima, Sandra, João e António